Wednesday 2 May 2007

Depoimento

Desde que Carmona foi eleito, dando a vitória ao PSD, que toda a máquina do PS – para quem Lisboa é fundamental, a "joia da Corôa" – planeia a queda do Executivo e a realização de eleições intercalares.
É a mesma estratégia usada contra o Governo PSD de Santana Lopes (Independentemente da sua maior ou menor qualidade, mas apoiado por uma maioria absoluta parlamentar, estável e coesa), que foi afastado em “desgraça”, ante o vociferar unânime de uma informação enviesada e deixou o PS capitalizar o estado de espírito geral, cavalgar a onda e chegar a maioria absoluta.
Numa receita bem sucedida, como numa equipa ganhadora, não se mexe. Por isso, desde a primeira hora, o PS a aplicou contra a maioria municipal em Lisboa.
Mas não o fez abertamente e dando a cara. Com a grande habilidade já aparente na luta para destruir Santana Lopes (onde se encontra claramente a marca da eminência parda do Partido, Jorge Coelho), abdicou do ataque frontal, deixou de lado as suas bancadas na Vereação e na Assembleia Municipal, e enveredou pelo caminho - mais lento mas seguro - da subversão, da promoção da fragilização de Carmona Rodrigues, de o ferir aos poucos, de fazer passar para a informação ataques envenenados, disfarçados de notícias cuidadosamente doseadas, para quase todos os dias aparecer num órgão de informação, um rumor, um boato, uma denúncia, uma suspeita.
Até as fugas de informação, internas e judiciais, foram doseadas a conta gotas, para órgãos de informação alternados. E esses órgãos de informação revezam-se na publicitação da notícia inicial, sendo depois, inevitavelmente, seguidos pelos outros, mantendo o assunto vivo pela procura de comentários, bem como pela actuação dos seus próprios comentaristas.
Acreditem que isto não sucede por acaso, nem é uma acumulação de actos isolados, mas a execução de uma estratégia hábil.
Criado o clima, seguiu-se a utilização do "princípio Marques Mendes para Arguidos)com abate dos mais próximos colaboradores do Presidente, deixando-o isolado. Era o necessário prelúdio para o ataque final, tirando-lhe alternativas, fragilizando-o e levando a opinião pública a acreditar num apodrecimento crescente do mandato Carmona Rodrigues.
Quem não entende isto, não entende nada! Isto não é uma “teoria da conspiração”, criada por um espírito distorcido. Há, sim, uma constatação de factos, uma análise a uma sucessão de acontecimentos, que se desejam apresentar como aparente coincidência, mas sobre os quais se pode estabelecer uma correlação clara, posso mesmo dizer matemática pois, estatisticamente, a probabilidade estatística da sua sequência, do seu teor e da sua distribuição, serem aleatórios, é tão pequena, que a podemos ignorar.
Mais ainda: a estratégia do PS aproveitou, da forma mais hábil possível, duas oportunidades únicas:
A 1ª, a actuação sabotadora, cegamente destrutiva e permanentemente mal intencionada do Bloco de Esquerda e do inenarrável Sá Fernandes. Sobre ele, há um “post” inteiro a colocar…
A 2ª, foi a ingenuidade do PSD, ao colocar tão alta a fasquia da responsabilização individual dos detentores de cargos públicos, especificamente nas autarquias. Marques Mendes deveria ficar-se pela situação de “Acusado”; ao invés de escolher – quem sabe se por confusão entre o significado das palavras, o que é duvidoso, dada a sua formação em Direito – “Arguido”, criou uma situação em que ficou extremamente vulnerável e enfraquecido em toda a estrutura autárquica ligada ao PSD, pois a facilidade com que qualquer pessoa possa ser “arguido” lhe deveria ser familiar. Qualquer cidadão deste país pode ser “Arguido” se houver uma simples denúncia anónima ou uma queixa – veja-se o “post” de Moita Flores.
Hoje, Lisboa, amanhã o Porto, depois Cascais ou Sintra ou Aveiro, todas as autarquias PSD estão vulneráveis e podem ser atingidas nos seus quadros políticos, e é quase certo que o venham a ser, se a experiência de Lisboa funcionar.
É preciso que o PSD e o seu líder, um homem de qualidade superior, mas que neste caso, animado por um espírito moralizador justo, mas mal balizado (bastava ter feito a distinção entre “Arguido” e “Acusado”…) entendam que Partido e Direcção correm sérios riscos de ser injustos para quem já é vítima do adversário comum e abrir um sério precedente que lhes pode custar as próximas autárquicas.

Manuel de Vasconcellos

1 comment:

Anonymous said...

Se calhar não tirámos o mesmo curso de Direito…

Há uns atrás resolvi inscrever-me no curso de Direito e, ainda que não soubesse qual destes títulos – Advogada, Juiz, Jurista, Jornalista ou mesmo coisa nenhuma –, me queria orgulhar de usar, sabia que essa minha incursão nos Códigos imensos e nas Leis Fundamentais tinham um único objectivo: tornar possível, aquilo que é necessário para os outros e que, na maioria das vezes, é lutar para que se faça justiça!

A algum custo, lá tirei o curso de 5 anos para aprender, entre outras coisas, que afinal não era assim tão fácil tornar possível aquilo que é necessário para os outros, o que mais tarde, depois de ter feito o estágio, ter-me tornado Advogada e assim continuado por mais algum tempo, se veio a confirmar uma tarefa praticamente impossível de ter sucesso!

E pergunto-me hoje, exactamente porquê? Não faltam razões. Acho que já tudo se disse e se escreveu sobre isso, com uma excepção honrosa a esta extraordinária teoria – nunca antes estudada no Direito Português – de que afinal o estatuto de arguido, acusado e condenado não passam de conceitos que significam exactamente a mesma coisa! Ou se confundiram num momento próximo da loucura, ou não tiraram o mesmo curso de Direito que eu …!!!

Tal confusão demente, ou falta/deficiência de formação académica, até podia ser ponderada se não estivéssemos a falar do Dr. Luís Marques Mendes, da Dra. Paula Teixeira da Cruz, e de outros Drs. que de certeza não tiraram o curso a um Domingo, que, mais do que ninguém, têm obrigação profissional de não hesitar na distinção destes conceitos. Se estivessem ainda nos corredores da faculdade, e se fosse eu a Regente da cadeira, tinham “reprovado” às cadeiras de Direito Penal e Direito Processual Penal.

Já não estão na faculdade e eu, por ironia do destino, nunca cheguei a subir ao estrado para dar umas aulas, mas como profissional do Direito, cidadã desta cidade e país, e militante do PSD, reprovo-os na mesma e com distinção!

Reprovo-os por esta loucura, espero que momentânea, de destruírem um dos princípios básicos e fundamentais do Estado de Direito (ainda) Democrático.

Reprovo-os também por fazerem política à luz daquilo que os Tribunais ditam, nem sempre certo, nem sempre correcto, raramente justo, e não à luz daquilo que um dia ouvi dizer que o PSD era, mas … já não é mais.

Reprovo-os ainda por toda esta falta de lealdade, honestidade, seriedade e valores para com aqueles que os ajudaram a ter um dos poucos palcos de vitória, nesta era cor-de-rosa deprimente que nos vai acompanhar nos próximos anos.

Reprovo-os ainda porque contribuírem escandalosamente para que o nosso país continue na mediocridade, na falta de esperança, no desânimo, e na vontade imensa de pegar nas malinhas e partir naquela estrada!

Reprovo-os principalmente por terem utilizado todas as armas (as legais e as ilegais) para deitarem abaixo e destruírem para todo o sempre quem, o único erro foi não ter dado um murro na mesa, ter gritado bem alto que quem era o Presidente era ele, e que num golpe de ingenuidade, não permitiu que os que efectivamente queriam ser Presidentes de Câmara de Lisboa, o fossem.

Reprovo-os por tudo isto, e, ainda mais, por me terem feito ver desta maneira vergonhosa e que tanto me dói que, afinal, não há mesmo justiça e quem a faz, ou a pretende fazer, já não são os Tribunais, mas sim os políticos que nunca aceitaram “o que poderia ter sido, mas não foi” e, assim, depois de entregar o meu cartão de militante junto da sede do Partido, pegarei nas minhas coisas e irei vender côcos para a praia.

Até breve.