Monday 30 April 2007

Quando os lobos uivam*

Como se lê no DN de 22 de Fevereiro, "Pinto Monteiro sustenta, em tese, que um executivo municipal não pode cair por uma suspeita que, depois, se venha a revelar infundada".

Aqui é que bate o ponto. Este é o verdadeiro cerne da questão levantada em torno da Câmara Municipal de Lisboa. Metralhado por acusações, o executivo de Carmona Rodrigues não pode cair por suspeitas infundadas e muito menos pela gritaria exaltada, demagógica, hipocritamente virtuosa e justicialista, dos vários quadrantes de uma oposição que mais se diria uma alcateia desvairada do que parte de um executivo municipal digno desse nome.

O objectivo de uma virulência sem escrúpulos que cada vez mais se esganiça em decibéis (o que, só por si, indicia a sua fraqueza em argumentos de fundo) não é outro senão o de provocar a queda da câmara pelo desmultiplicar de acusações e de insinuações, com propósitos evidentes de desagregação da sua imagem e de criação de um intolerável descrédito quanto a ela. Um objectivo puramente político, portanto, que recorre à baixeza da imputação de malfeitorias como instrumento habitual da sua estratégia.

É evidente que a oposição não olha a meios e põe sistematicamente os seus interesses à frente dos interesses de Lisboa. E também é evidente que o presidente da câmara faz exactamente o contrário.

Na verdade, Carmona Rodrigues tem feito tudo para honrar os seus compromissos eleitorais. Tudo, incluindo aturar a gente enraivecida que lhe salta às canelas, dia sim, dia sim.

O procurador-geral já se apercebeu do risco que a generalização de situações deste tipo envolve para a dignidade, para a estabilidade e para a eficácia do exercício de cargos públicos, e oxalá possa contribuir para pôr cobro aos abusos.

Tanto quanto pode antecipar-se do que veio a lume na comunicação social, os factos imputados aos dois vereadores que se encontram na situação de arguidos e suspenderam funções levarão a que as averiguações correspondentes, no tocante à idoneidade deles para fazerem parte da vereação, fiquem em águas de bacalhau. Num caso, tinha havido consenso prévio; no outro, em nada se vê que a situação se enquadre na figura de peculato… Tudo o mais é ruído, poeira, areia nos olhos, cortina de fumo, destilação de venenos, catadupa de pretextos para entravar o normal funcionamento da câmara.

Felizmente, a celeridade na matéria está nas intenções do procurador-geral. Pelo menos, isto é o que decorre com evidência das suas declarações. Qualquer pessoa de boa-fé compreenderá que o presidente da Câmara de Lisboa também tem essa expectativa e que ela, a concretizar-se, lhe permitirá meter na ordem e envergonhar publicamente as vociferantes criaturas que o atacam.

Pode ser que, mesmo assim, Carmona Rodrigues não venha a ter condições para aguentar uma tempestade que desabou artificialmente sobre a sua cabeça e põe imprudentemente os interesses da cidade sob os mais graves riscos.

Mas, quer ele aguente quer não aguente, se os sucessivos pretextos invocados para a sua destruição cívica e política e para o desmoronamento da câmara vierem a revelar-se infundados com a tal celeridade que é de esperar da parte do Ministério Público, deveria haver uma maneira de responsabilizar devida e rapidamente os fautores de tanta agitação. É de recear, todavia, que, no fim, tudo se limite à seca informação de que os processos foram arquivados.

Que se trata de pura manobra, revela-o logo a indisponibilidade da oposição para provocar a queda do executivo, demitindo-se em bloco (de efectivos e suplentes) dos seus cargos na vereação. Como isso não afectaria a composição da assembleia municipal, onde continuaria a ser minoritária, a solução não lhe convém… O que está em causa é aniquilar a maioria do PSD, dê lá por onde der!

Sem poder afectar a composição da assembleia municipal, trata-se de se afectar a governabilidade da autarquia, desgastando, até onde for possível, os titulares das funções executivas do partido maioritário.

Este artigo já estava escrito quando o Sol de sábado passado publicou o editorial de José António Saraiva, "Carmona e os chacais". Decidi por isso alterar o meu título, que inicialmente era "O tempo das hienas", para outro, de sabor mais aquiliniano. Mas também podia ter escolhido "A lei da selva" ou "A alcateia". Em qualquer caso, lobos, hienas ou chacais são espécies zoológicas predadoras a que a formosa Ulisseia não pode ficar entregue.

Vasco Graça Moura
Escritor


*enviado como contributo, publicado no DN

1 comment:

Anonymous said...

O PSD o Dr Marques Mendes e a Drª Paula Teixeira da Cruz que tenham decoro e que percebam a diferença entre um principio - que regra geral tem excepções - e um instrumento destinado a destruir o próprio partido e foi neste ardil que cairam por culpa exclusivamente sua.